Lições do deserto: depois de uma grande vitória vem a tentação

Quando os homens do lugar lhe perguntaram sobre a sua mulher, ele disse: “Ela é minha irmã”. Teve medo de dizer que era sua mulher, pois pensou: “Os homens deste lugar podem matar-me por causa de Rebeca, por ser ela tão bonita”. Gênesis 26:7.
Grandes homens também fracassam. Uma grande vitória hoje não é garantia de sucesso amanhã. Se há um tempo perigoso e vulnerável na vida de uma pessoa, esse tempo é após uma conquista importante. Depois de uma grande vitória, tendemos ao relaxamento e isso nos coloca em perigo quando baixarmos a guarda. Esse tipo de tentação tem diversos ângulos. Às vezes, a pessoa é cuidadosa em uma área, mas não vigia em outra.
Muitas pessoas são honestas no trato com o dinheiro, mas são vulneráveis na área do sexo. Outras são zelosas quando se trata de sexo, mas são relapsas quando se trata de lidar com dinheiro. Há aqueles cujo ponto vulnerável é a sede de poder. Há pessoas confiáveis nos negócios, mas moralmente pervertidas. Esse é o mesmo Isaque que tinha uma longa caminhada com Deus, mas agora comete um sério deslize moral. Ele passara por provas tão difíceis, mas naufraga em uma prova menor. Depois de triunfar sobre a inexpugnável cidade de Jericó, Israel foi derrotado pela pequena Ai (Josué 7).
Davi matou o leão e urso, venceu o gigante, mas caiu na teia da cobiça. Sansão venceu mil filisteus, mas foi incapaz de resistir a sedução da mulher filisteia. Paulo afirma que quando somos fortes somos fracos. Porém, quando reconhecemos nossas limitações e passamos a confiar em Deus e a vigiar, somos fortes. Isaque teme dizer que Rebeca é sua esposa. Pensando em se proteger, ele a expõe e, para salvar a pele, coloca a mulher em perigo.
Isaque cometeu três falhas graves – mentira, egoísmo e medo. Afirmando que Rebeca é sua irmã, além de expor a mulher a cobiça dos homens daquele lugar, ele a desrespeitou como esposa. Rebeca era bonita e poderia provocar desejos ilegítimos. Mas, a mentira tem pernas curtas. O indivíduo que mente é pego na sua própria mentira.
O rei Abimeleque pegou Isaque em flagrante, ao vê-lo acariciando Rebeca, chamou Isaque e o censurou severamente. Aquele que tinha ouvido a voz de Deus abre a boca para mentir. Aquele que obedecia ao Altíssimo agora deixa de confiar no seu livramento, aquele que andava pelo conselho de Deus procura tomar o destino da vida nas próprias mãos. Em qualquer área da vida, mais cedo ou mais tarde, as máscaras caem. Um dia, a farsa acaba. Ele não pôde mais representar. Também somos tentados a contar certas “mentirinhas” aparentemente inofensivas para nos safar ou para justificar alguma atitude.
Porém, o grande perigo da mentira é a verdade. A verdade pode surgir a qualquer momento. Muitas vezes, as máscaras caem nas horas mais inesperadas. A vida não é um teatro. Viver com máscaras não é seguro. Não importa quão elaborada seja ou com que motivação foi contada, uma mentira sempre será um recurso reprovado. “Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo.” Efésios 4:25
“Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador.” Col. 3:9-10
“Fora ficam os cães, os que praticam feitiçaria, os que cometem imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e todos os que amam e praticam a mentira.” Apocalipse 22:15. Isaque havia praticado um grande mal a si, à esposa e ao povo filisteu. Foi um ato precipitado e irresponsável. Abriu as portas para que a cunha da infidelidade entrasse em seu casamento. A mentira tem um grande poder de destruição. Ela pode devastar um casamento, pode arruinar uma família, pode desestabilizar um relacionamento, pode custar uma carreira ou destruir um ministério.
Os valores morais de Isaque se afrouxaram. É triste saber que essa semente maldita não morreu no casamento de Isaque e Rebeca. Se observarmos ao longo de suas vidas, depois de velhos, eles não conseguem dialogar. (Gen. 27). Os planos de Isaque não são compartilhados com a esposa, mas com o filho mais velho. Rebeca, por sua vez, faz de Jacó, seu filho mais novo, o centro da sua vida. Rebeca não consegue mais confiar no marido, ela escutava as suas conversas às escondidas. O diálogo morreu na vida deles.
A velhice de Isaque foi marcada pela ausência de Jacó, a revolta de Esaú e a falta de diálogo com Rebeca. Isaque falhou como marido e fracassou como pai. Foi um grande homem, teve grandes virtudes, demonstrou ousadia em alguns momentos da vida, mas colheu na família o amargo fruto da mentira semeada. Aquele que transige com a mentira é louco. Aquele que faz concessão ao erro abre uma cova para os seus próprios pés. O pecado de Isaque deve ser um sinal de alerta para nós e foi registrado para não cometermos os mesmos erros.

Edwil V. Borçatto – Pastor Local da Igreja Cristã da Trindade (Inspirado no Livro Prosperando no deserto – Hernandes Dias Lopes)