De volta ao passado

29/04/1992 – Há exatos 30 anos – Eram iniciadas as obras do “Calçadão da Avenida”, dentre os mais notórios projetos urbanos cosmopolenses, sempre marcante nas memórias dos contemporâneos e gerações dos anos 1990. A semana começava com a chegada de caminhões de pedra portuguesa, areia e pedriscos, descarregados e armazenados nas vagas de estacionamento do quarteirão da Avenida Ester com as ruas Campinas e Sete de Setembro, demudado em depósito para os materiais, sendo o marco inicial das obras de construção do Calçadão.
A Avenida Ester amanhecia ao som dos tratores e retroescavadeiras da Prefeitura, perfurando a manta asfáltica e demarcando as áreas para as obras do Calçadão. Marteletes e picaretas entoavam os sons dos maquinários da Prefeitura, eram os mestres calceteiros, preparando as calçadas para os assentados das pedras portuguesas, então, os únicos resquícios do extinto Calçadão. Calçadas assinaladas em pedras, minimante assentadas, realçadas com o icônico logo da administração municipal, nomeada como “Governo Popular de Cosmópolis”.

O espaço público contemplava três quarteirões da Avenida Ester, iniciando na confluência com a rua Campinas, imediações da Praça Major Arthur Nogueira Ferraz, seguindo para as esquinas das ruas Sete de Setembro e Del. Antonio Carlos Nogueira da Silva Telles, concluindo na rua Santa Gertrudes de Helfta. A concepção original do “Calçadão”, oficialmente regimentada para as obras, prolongaria os quarteirões das ruas Expedicionários e Max Hergert, instituindo o projeto urbano “Integração, comunidade, comércio e lazer”, parte integrante dos trabalhos de reestruturação urbana e pública da região central. Cortes nas verbas, orçamento limitado municipal, inviabilizavam a sequência do Calçadão até a Max Hergert.
O Calçadão possuía área de lazer com mesas cimentícias pré-moldadas de xadrez, cartas e refeitório familiar (mesa grande, muito usada pelos estudantes e amigos), tradicionais bancos de madeira e ferro forjado para descanso, arborização e jardins temáticos, lixeiras de concreto modelado, estacionamentos transversais (populares “vagas de esgueio”), e as modernas cabines telefônicas de concreto e vidro da Telesp, referência de modernidade e sofisticação na época, os novos “orelhões”.

Projeto do arquiteto cosmopolense José Roberto Spana, conhecido Beto Spana, o mesmo criador das novas praças do “Largo da Matriz”, falecido prematuramente no período das obras de urbanização, concepção do então prefeito José Pivatto (1989 a 1992). Divergências políticas e comerciais, sobretudo a falta de manutenção pública nos últimos anos, principalmente na iluminação e jardinagem das extensões do Calçadão, transformavam o espaço em um remoto cartão postal. Em 1999, a administração do prefeito Joaquim José Pedrozo, com o custeio de um pequeno grupo de vereadores e comerciantes, realizou a demolição total do Calçadão. Foram sete anos de existência do Calçadão da Avenida Ester, o qual foi de cartão postal à notícia pelo abandono e criminalidade, assim como, centro das famigeradas disputadas políticas eleitorais.

Em destaque, o quarteirão da Avenida Ester com as ruas Campinas e Sete de Setembro, notabilizando os amontoados de pedra portuguesa, separadas em cores, e o mestre calceteiro preparando a mistura de areia e cimento para os assentamentos nas calçadas. Na esquerda, com 27 anos de idade, o então subinspetor Falcão, então recém nomeado Guarda Municipal. Ao fundo, funcionários do setor de obras da Prefeitura realizam as remoções do asfalto da Avenida Ester e aberturas de dutos de passagem, sobressaindo muita terra vermelha (terra rossa como diziam os imigrantes italianos), e os antigos paralelepípedos da via. Imagem registrada pelo mestre Bruno Petch, então fotógrafo oficial da Prefeitura.

Texto Adriano da Rocha (Curta e siga @AcervoCosmopolense) – foto Bruno Petch