Corte estético de orelha e rabo em animais é mutilação

Procedimento pode acarretar o desenvolvimento de infecções auditivas

A caudectomia (corte de cauda) e a conchectomia (corte de orelha), são cortes estéticos realizados em animais de estimação. Antigamente, era muito comum, principalmente, em cães de briga. Hoje, são proibidos por lei.
O veterinário José Francisco da Costa, carinhosamente conhecido como Chiquinho, explica sobre o procedimento.

Procedimento
De acordo com o veterinário, “se trata de um aparelhinho que é colocado sobre a orelha do animal. São tiradas as medidas com uma caneta, para que as orelhas não fiquem tortas. Então, é colocado o aparelho que pressiona o local. Então, você corta e sutura, tudo isso com o animal anestesiado.
Ele ainda explica que “hoje, esse tipo de corte é considerado mutilação. O CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária), inclusive, promoveu várias reuniões e palestras para conscientizar os veterinários a não fazerem isso, tanto que chegaram a uma lei, a qual proíbe o veterinário de realizar esse tipo de procedimento”, explica Chiquinho.

Em que animais esses cortes são encontrados com mais frequência?
Os cães em que se é mais comum encontrar o corte de orelhas são o Dobermann, o Pitbull, o Fox e o Pinscher. O profissional diz que “antigamente, há relatos de pessoas que colocavam seus cachorros para briga. Acontece que, quando um cachorro pega na orelha do outro, sangra muito, e sangrando demais, ele era desclassificado. Então, fazia-se o corte de orelha por esse motivo. Depois, virou estética porque era bonito. Hoje, praticamente, ninguém consegue ver um pitbull ou um dobermann sem que ele tenha a orelha cortada. Mas, não pode.
Quando surgiu o Pitbull, raça desenvolvida para briga, todo mundo resolveu ir cortar a orelha. Quando eu montei a clínica, havia saído recentemente a lei que proibia esses cortes, então, eu nem comprei o aparelhinho que realiza o procedimento. Eu já vi cortarem muito, principalmente, onde eu fazia estágio”, relata Chiquinho.

Qual é a necessidade?
“Estes cortes são feitos por estética, não há necessidade nenhuma. Muito pelo contrário, você acaba gerando nos animais algumas deficiências de manifestações de sentimento, como, por exemplo: um animal vai se interagir com o proprietário abanando o rabo ou erguendo a orelha de atenção. Então, quando você faz a mutilação, não há mais isso. Além disso, podem acarretar problemas de audição e infecções dentro do ouvido (otite). Os órgãos responsáveis por fazerem o registro dos animais requisitam que o animal esteja obrigatoriamente com 100% de suas características, não podendo estar com orelha ou cauda cortadas”, explica o profissional.

José Francisco da Costa, médico veterinário. CRMV – SP 24666

Há alguma exceção para realizar o procedimento?
Segundo Chiquinho, “apenas em caso de acidentes. Já aconteceu de proprietários pedirem para retirar a orelha de seus cachorros por estética, mas não faço isso. Não traz benefício algum para o animal”.

Bonitos como são
Vinicius Laurita, proprietário de dois Rottweilers, não cortou a orelha de seus animais porque “eles são bonitos como são. É muita crueldade fazer isso por pura estética”.