Volta às aulas presenciais: o que você precisa saber sobre o uso de mochilas por crianças Volta às aulas presenciais: o que você precisa saber sobre o uso de mochilas por crianças

Mochilas muito pesadas podem causar dores e até mesmo problemas no desenvolvimento infantil

1. O que o excesso de peso na mochila pode causar?
Existe uma estreita relação entre o excesso de peso na mochila com dores na coluna e modificações no modo de caminhar da criança. O peso que muitas crianças carregam traz patologias que, com o passar dos anos, tornam-se difíceis de tratar. Em alguns casos, as mochilas pesadas podem até mesmo lesionar as placas de crescimento dos ossos da coluna vertebral e alterar o crescimento normal da criança.

2. A dor na coluna é imediata? No início, a criança pode relatar apenas um desconforto, mas deve-se atentar para as queixas da criança, pois, caso essa sobrecarga de peso continue, o quadro pode se agravar e ser necessária a utilização de medicações e tratamento fisioterápico.
Pelo fato de serem crianças, e não adultos, o esqueleto está em fase de formação, sendo mais susceptível a deformações e as estruturas musculoesqueléticas apresentam menor capacidade de suportar o aumento de carga. Hábitos posturais incorretos adotados desde o ensino fundamental são motivos de preocupação.
A postura adequada na infância ou a correção precoce de desvios posturais nessa fase possibilitam padrões posturais corretos na vida adulta, pois esse período é da maior importância para o desenvolvimento musculoesquelético do indivíduo com maior probabilidade de prevenção e tratamento dessas alterações posturais na coluna vertebral.

3. Quais as áreas mais afetadas? A região lombar da coluna, geralmente, é mais sobrecarregada quando o problema é o excesso de peso, uma vez que esta região sofre diretamente os efeitos do aumento do peso nas mochilas. A coluna cervical também sofre com o excesso de peso, ocorre um aumento da cifose cervical. Quando o problema é a postura ou o modo como se carrega as mochilas, tanto a coluna torácica como a coluna lombar podem sofrer as consequências.

4. Existe um peso ideal a ser seguido? A Academia Americana de Pediatria considera que o ideal é que a mochila tenha entre 10% e 15% do peso corporal do estudante. Sugiro (Dr. Raul M. Casagrande) que o peso das mochilas não ultrapasse 10% do peso corporal da criança. O uso do bom senso é sempre necessário.

5. Qual a maneira correta de carregar a mochila nas costas? Ao escolher uma mochila, é importante que ela seja leve. Quando estiver vazia, não deve pesar mais que meio quilo. O ideal é que seja de duas tiras, pois as de tira única para o ombro não distribuem o peso uniformemente, o que pode causar problemas de postura. O estudante deve apertar as tiras para que a mochila fique bem junto ao corpo e, aproximadamente, a cinco centímetros acima da linha da cintura.
As mochilas de alça única estão contraindicadas, apesar de manterem o peso junto ao corpo e poder trocar o lado para aliviar o desconforto.Trabalhos científicos identificaram que um dos fatores que mais contribuem na produção de dor está no ato de colocar e retirar ou suspender a mochila. É preciso treinar uma técnica correta para estas manobras.
Para suspender a mochila do chão, devem-se usar os dois braços e flexionar os joelhos, evitando inclinar o tronco, exatamente como se faz para elevar qualquer objeto pesado. Agora se apoia a mochila em um dos quadris, deve-se então vestir primeiro uma alça até o ombro e a seguir passar o outro braço pela outra alça.

6 e 7. As opções com rodinhas solucionam o problema ou também podem causar algum problema no ombro/corpo? Qual a maneira mais indicada para carregar a mochila de rodinha?
As mochilas com rodinhas podem ser uma alternativa para o excesso de peso. A Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica alerta, no entanto, que é preciso ter cuidado com a alça do carrinho que deve estar a uma altura apropriada. As costas devem estar retas ao puxá-la. Devem ter alça com comprimento adequado para que a criança ande sem fazer torção ou inclinação do tronco, pois isto pode provocar problemas até piores que as mochilas nas costas.
Para crianças menores, as rodinhas devem ser o maior possível, podendo transpor obstáculos sem muita força e facilitando subir escadas. A criança deve estar reta com esta mochila. Infelizmente, as crianças um pouco maiores acham que usar mochila de rodinhas é “pagar mico”.

8. Qual o tratamento que pode ajudar a corrigir essa postura caso os pais percebam o erro?
O médico ortopedista deve ser sempre procurado no caso de queixas de dores nas costas pelas crianças. É sempre necessária uma investigação criteriosa para que se excluam outras causas possíveis de dor. Caso seja confirmado que a dor nas costas é devido ao excesso de peso da mochila, o primeiro passo é retirar esse excesso de peso. O tratamento pode ser desde a simples orientação da criança e familiares, até a intervenção médica com medicamentos e fisioterapia. Cada caso deve ser avaliado individualmente pelo ortopedista.

DICAS:
1. Saiba o peso ideal
O peso total da mochila não deve ultrapassar os 10% do peso da criança. É importante ir à balança e conferir.
2. Leve o que realmente importa
Se o peso está maior do que o recomendado, reavalie o que está na mochila. Você pode encontrar várias coisas que poderiam ficar em casa.
3. Fichário pode ajudar
Em vez de cadernos pesados, o fichário pode ajudar. É possível levar somente as folhas das matérias do dia.
4. Esqueça os bolsos
Compre mochilas sem muitos bolsos e compartimentos. Isso força o aluno a levar o que realmente importa.
5. Não leve tudo
Para evitar o trabalho de separar o que será usado no dia, crianças têm o hábito de levar todo o material da semana. Não leve tudo.
6. Lanche é na lancheira
Nada de deixar a lancheira dentro da mala. Isso só aumenta o peso nas costas.
7. Converse com a escola
Caso seja impossível diminuir o peso da mochila, converse com a escola. Veja a possibilidade de deixar o material mais pesado no próprio colégio.
8. Se tudo der errado
Caso não dê mesmo para chegar ao peso ideal, considere comprar uma mochila de rodinha. Ela não força as costas.

Dr. Raul M. Casagrande
Ortopedista e Traumatologista
CRM 139858/ TEOT 13389 / SBQN 0770
Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Quadril. Especialista em Cirurgia de Fêmur, Quadril e Pelve. Mestre em Ciências do Movimento Humano (Fisiologia, Biomecânica e Treinamento Desportivo)